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:: Resenha 276 :: "Pérola na areia", Tessa Afshar


Sinopse: Como uma gentia, marcada por um passado arruinado e de má reputação, pode fazer parte da linhagem de Cristo e se tornar símbolo de fé autêntica e irrepreensível diante de Deus? Seria possível.
Alguns podem questionar o fato de Raabe ter sido respeitada, a ponto de ter seu nome escrito nas Escrituras, mas poucos teriam a mesma ousadia. O livro Pérola na Areia quebra alguns tabus acerca da redenção dessa mulher que, embora gentia, reconheceu a soberania do Deus de Israel e ousou enfrentar o seu próprio povo. Ela fez a graça de Deus alcançar sua vida, tornando o pecado como fio escarlate, agora, na pureza mais alva que a neve. Todos conhecem a história de Raabe, a prostituta, mas poucos reconhecem que foram sua ousadia e fé balizadas pela boa obra que salvaram os espiões e os ajudaram a conquistar a Terra Prometida.
Pérola na Areia o conduz a uma incrível e emocionante jornada pela história de uma gentia, que, em meio a uma nação pagã destruída, teve a vida poupada como fruto de sua fé sincera. Vemos, também, que Salmom — um grande homem de fé, influente líder de Judá estimado em toda Israel e inimigo dos gentios — fará Raabe redescobrir um sentimento intenso e conflitante que começará em seu próprio coração.
Descubra como uma gentia alcançou tal graça diante de Deus e fez parte da genealogia de Cristo.




A breve opinião de uma mente emocionada:


Bem, podemos dizer que esse livro não é para todos... ou talvez seja?
Verdade seja dita: requer considerável concentração no que diz respeito a sua história e, até mesmo para aqueles que têm gosto por um enredo mais leve, pode ser muito interessante de se observar.
É truncado? Sim.
É histórico? Sim.
Tem drama? Sim.
Tem romance? Sim!
Nesse livro temos de tudo, então, de uma forma ou de outra, pode ser um caminho para qualquer tipo de gosto.
Para aqueles que consideram como um livro essencialmente religioso, em especial por ter sido escrito por uma teologista, não é bem dessa forma. A autora monta as suas ideias com base na história de Deus, aquele que é considerado o único Senhor da Terra, e todo o trajeto que os hebreus realizaram, conquistando terras, derrotando povos, até que de fato a religião estivesse estabelecida, assim como seu território de abrangência.
A questão toda, contudo, não é essa!
Apesar de um grande enredo religioso, como se houvesse uma necessidade de, digamos, uma doutrinação ao cristianismo, o tema central do livro é, pasmem, um romance!
A escrita é firme, muito bem colocada e posicionada, história quase completamente fiel ao caminhar do cristianismo, desde seus primórdios, mas isso, é, apenas, um pano de fundo; o enredo central gira em torno de uma jovem prostituta.
A personagem principal, Raabe, fazia parte de uma família humilde de agricultores, que, de tempos em tempos, tinham dificuldades com seu plantio no que dizia respeito ao próprio clima da terra. Em determinado período de intensa escassez, não havia mais o que plantar, vender ou trocar para que pudessem se alimentar; nesta época, Raabe estava com seus quinze anos de idade.
Dotada de uma beleza incomum, partiu de seu pai oferece-la como prostituta ao templo de Canaã em Jericó. Naquele tempo, vivendo sob um regime politeísta, onde os sacrifícios aos deuses eram comuns, Raabe seria vendida como prostituta ao templo de forma que pudessem sanar as suas dívidas e prover os alimentos necessários. A todo custo Raabe tentou se livrar daquela situação, implorando ao seu pai que não fosse ofertada ao templo, mas não houve nada que se pudesse fazer.
Igualmente considerando que o destino das filhas sempre estava nas mãos do pai, ou do homem que regia a casa, não havia como contestar aquela decisão. Ainda que seu único pedido fosse o de não ser vendida para um templo, ainda que iniciasse sua jornada como prostituta, a partir daquele momento Raabe sentiu como se não houvesse mais nada para ela. não havia a possibilidade de criar uma família, não haveria mais olhos de pureza sobre ela, não havia mais felicidade. Passou a existir uma solidão dentro dela, na qual, especialmente, sua família havia criado, pois haviam vendido o seu corpo.
De que forma poderia confiar em algum homem, ou qualquer outra criatura, se sua própria família a havia subjugado a tal situação?
Ainda que com o sofrimento nela contido, Raabe fez exatamente o que tinha de fazer: conseguiu seus clientes, fez uso de sua beleza, inteligência, conseguiu prover luxo à sua estalagem, a qual a poucos era direcionada. Com o passar do tempo, começou a ser verdadeiramente cobiçada pela sua exclusividade, única.
Independente disso, não havia amor no coração dela. O “amor” pode ser colocado de uma forma geral, englobando sentimentos essenciais. Ela se via sozinha, vivendo em um vazio, mesmo que continuasse tento contato com sua família, visitando-os, passando bons momentos com o mesmo. A vida era como uma mácula, que não poderia ser desfeita ou curada.
E, mesmo assim, naquela situação, certo dia algo diferenciado surgiu. Enquanto estava com um cliente, com o qual acabou fazendo certa amizade, percebeu certa preocupação em seu comportamento, insistindo para que lhe contasse o que passava. Ainda que com resistência, à Raabe contou que o povo hebreu, escravo, no Egito, conseguiu se libertar pelas mãos de um homem chamado Maomé, o qual estava sendo conduzido por alguém que se dizia o deus de todas as coisas, o único deus. Este era, simplesmente, o Senhor, Deus, que conduziria aquele povo à sua redenção e liberdade, para que pudesse agregar mais e mais à sua doutrina e amor. Dizia-se que abraçava os pobres, aqueles que mais necessitavam, que a todos amava sem julgamentos; que não desejava sacrifícios, que desprezava a maldade, que tinha carinho e cuidado, que era essencialmente amor. Tal povo estava sendo conduzido por aquele deus em direção leste, aproximando-se deles, conquistando cidades que jamais se acreditava que pudessem ser derrotadas. Naquele homem se via uma clara apreensão e desconforto, mas a ela, ouvindo tais palavras sobre o deus, ainda que em tom pejorativo, deixou-a, apreensiva e pensativa sobre a questão: “um deus que não pede sacrifícios e oferece, apenas, amor, abraçando a todos”. Será que, de fato, existia alguém superior a quem, verdadeiramente, se pudesse confiar amor e sentir proteção real?
Raabe via-se como uma criatura ruim, impura, abandonada, e aquele deus se mostrava como um sopro de esperança a sua realidade. Ela poderia amar novamente, poderia depositar a sua confiança em uma criatura superior que não desejasse mortes, sangue em troca de sua ajuda. Havia, contudo, uma questão importante: esse deus desprezava as prostitutas.
Ouvia-se que estas eram apedrejadas.
Com base nisso, como poderia se dar esse amor? Ela poderia ser amada? Poderia se dedicar honestamente a esse deus e ser perdoada pelo grande erro de ter vendido o seu corpo para tantos homens e adquirido tanta fortuna? Poderia existir, realmente, um amor genuíno e ela ser feliz novamente?
Passei por diversos estágios ao longo desse livro, posso dizer.
Quando o peguei, acreditei que falaria sobre a vida de sofrimento de uma prostituta: seus clientes, a forma como era a sua vida durante a prostituição, o sofrimento contido que era viver daquela forma. Logo em poucas páginas, percebi que isso seria quebrado, pois não havia detalhamento – não falo em erotismo – no que dizia respeito às situações ou a sua vida de prostituta. Isso era algo passado de forma rápida e superficial, já se findando em poucas páginas do livro.
Depois acreditei que se tratava de uma gama de conflitos internos sobre ser ou não amada por esse novo deus, a forma como poderia se redimir, como poderia ser amada, como poderia aplacar os seus pecados. Afinal, por maior que fosse a sua fé, ela não deixava de ser uma prostituta. Como o Senhor, por mais piedoso que fosse, poderia amá-la, considerando que as prostitutas por eles eram desprezadas? Essa foi a minha segunda impressão sobre o livro, o que achei que poderia ser fantástico...
E aí me veio a terceira e última impressão do livro, que se mostrou claro do que verdadeiramente ele se trata.
O livro mostra todas as impressões que tive anteriormente e um pouco mais, na verdade!
A vontade de Raabe em conhecer o Senhor, sua doutrina e o povo que sob “sua ordem” vivia, foi maior do que sua vida como prostituta. Aos 28 anos de idade, Raabe abandonou o politeísmo e aos hebreus se juntou. Ali ela pôde conhecer o que era verdadeiramente o companheirismo, o carinho, o cuidado que tinham as outras criaturas para com outras e os caminhos daquele deus, o Senhor; da mesma forma, naquele ambiente, pôde ver seu passado, seu sofrimento essencial, o preconceito e o desprezo pelo que havia sido sua vida.
Os pontos bons e ruins não somente podem ser vistos por parte da comunidade hebraica como, igualmente, por um de seus líderes: Salmom.
[Nesse momento eu tenho que fazer uma piada, porque quando eu li “Salmom”, só pensava em comer salmão, só pensava em peixe quando ele aparecia e estava com muita dificuldade em sobreviver a esse drama de vida! XDD Coloquei a força de vontade para funcionar para começar a chama-lo de “sálmon” e não “salmão”... u.U]
Este é um personagem que, inicialmente, pareceu ser apenas mais um secundário, mas logo passou a ocupar um dos papeis mais importantes e expressivos nesse livro: o cuidado com Raabe e sua família.
Inicialmente cheio de ódio e receio por uma criatura de fora, especialmente com o passado de prostituta, ser colocada em suas mãos para cuidado por Josué – substituto do falecido Maomé –, Salmom foi uma criatura agressiva, distante e grosseira para com eles. A aceitação foi um processo lento, um período de cuidados tanto de um lado quanto do outro, para que logo ele pudesse mostrar quem verdadeiramente era: um homem gentil, fiel, que verdadeiramente estava presente para todos com quem se importava.
E aí, sim, que pude perceber que havia, além de tudo, um romance. Uma aproximação honesta, cuidadosa dos personagens, porém sutil para a época.
Posso dizer que foi emocionante de se ler a forma como tudo degringolou, como os personagens secundários são essenciais, cheios de personalidade, tão diferenciados um do outro e tão incrivelmente importantes a cada página dessa história. A verdade é que poucos são os livros em que todos os personagens desempenham um grande papel e não se tornam, somente, figurantes. Não é o caso deste.
A autora, em uma quantidade relativamente reduzida de páginas, foi capaz de criar uma ambientação incrível – dentro de um enredo impressionante e histórico, envolvente até mesmo a quem não é ferrenhamente religioso –, criar personagens carregados e diferenciados, independente da quantidade dos mesmos, e, ao mesmo tempo, trazer da forma mais brilhante todos os grandes pontos de uma boa história: drama, conflito físico e mental, medo, felicidade, ódio e romance.
Não posso dizer que é um livro fácil e leve de se ler, mas é impressionante a forma como tudo se encaixa e como é descrita a história de uma maneira romântica, apaixonada e forte, para qualquer criatura que a leia.
Foi uma experiência como poucas, esse livro. Recomendo muito para aqueles, assim como eu, que têm o prazer de ler e recordar de fatos históricos com um sorriso no rosto, misturados a uma ficção romântica muito bem posicionada, em especial o mistério de não saber o que esperar, de não saber o que acontecerá.
Até o final, nada é óbvio. Nada!
E assim que é fantástico!

Com base nesse livro, gostaria de fazer um último comentário de sua relevância: se você não estiver entre os hebreus, com Josué, para destruir as muralhas de Jericó, favor não usar sandálias gladiadoras!
Grata! U.u

Até a próxima resenha! ^-^=



Título: Pérola na areia
Autor: Tessa Afshar
ISBN-13: 9788581580289
ISBN-10: 8581580289
Ano: 2013
Páginas: 360
Editora: BV Books
Compre aqui: Saraiva | Livraria da Folha
Classificação:









Sobre a autora:


Nasceu no irã, onde viveu os primeiros 14 anos de sua vida. Depois disso, estudou em uma escola inglesa para meninas, radicando-se mais tarde nos Estados Unidos. Tessa é formada em Teologia para Yale Unversity, onde foi uma das cátedras na Evangelical Fellowship, na Divinity School. atualmente, é líder do Ministério de Oração e do Ministério de Mulheres em Nova Inglaterra.

Comentários

  1. Olá Bell!!!
    Adorei a resenha!!! E confesso q fiquei bem curiosa, com esse livro, q mesmo parecendo de gênero religioso, pode agradar a quem goste dos outros gêneros...Esse vai pra lista!!! ;-)
    Ameiii o último comentário/dica/conselho kkkkkkkkkkkkkkk
    Bjs :-*

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