Eu poderia ter colocado tudo com letra maiúscula, mas
feriria os meus olhos. O título não pode ser todo com letra
maiúscula, porque, afinal, está errado nas colocações da língua portuguesa.
“Títulos devem começar apenas com a primeira letra
maiúscula, não toda a frase”. Isso pode ser um tanto marcante, mas convenhamos
que fica feio, não?
Quero dizer, fica tão mais bonito tudo com letra maiúscula,
então, por qual motivo um palhaço veio e disse que tem de ser apenas a primeira
palavra com maiúscula?
O que é pior: escrever certo e ficar feio ou escrever
errado e ficar bonito? É um problema!
Na dúvida, coloco o certo mesmo e incremento com um
enfeite nas laterais, apenas para disfarçar o TOC... que confesso ser outro
problema.
TOC [Transtorno Obsessivo Compulsivo], sem mais delongas,
é bem autoexplicativo e já bastam várias linhas sem dizer absolutamente nada de
importante.
É uma dificuldade enorme não conseguir condensar
absolutamente nada, mas apesar disso, me pergunto: qual a graça de condensar
tudo? Afinal, o que pode terminar de falar hoje, quando pode terminar só amanhã
de manhã? Se não houver todas as explicações possíveis e inimagináveis para
cada coisa que fazemos, qual seria, então, o sentido do universo? What is the meaning of life?
Por que terminar de falar amanhã, quando posso terminar só
no mês que vem? Já tive diversas discussões sobre essa questão e cheguei à conclusão
de que não devo diminuir de forma alguma tudo o que tenho a dizer; garanto que
nada é simplesmente prolixidade, mas um monte de coisas sem sentido,
entremeadas com muita lógica! Lógica de absolutamente nada, mas também
funciona, porque continua fazendo sentido completo. Garantido. Devolvo seu
dinheiro [e seu amor] em três dias se não for o caso.
Mentira; não devolvo. Não devolvo pelo simples motivo: não
são todos que aguentam esse tipo de pessoa, que tem costume de explicar tudo [Sem
empatia? Autismo? Síndrome de Asperger? SHELDON?]. Sim, já foi uma designação a
minha pessoa [“Oh, é mesmo? Nunca poderia imaginar!”]
Apenas digo aos meus amigos: como são pacientes.
Muitos dizem que sou divertida... Antes palhaça do que
sem graça.
Mas, afinal, o que é importante? [E lá vem mais uma
quantidade infindável de linhas, muitas delas sem utilidade.]
Importante, quem sabe, seria dizer que sou a mais nova
colaboradora deste tão adorável blog e gostaria agradecer às amigas pelo
convite a tão sórdida, porém também adorável, criatura [no caso, eu]; mais sórdida
que adorável, com toda a certeza.
É possível que escreva resenhas sobre livros que me
apetecem [me “apetecem”, sim; não “gosto” de nada; fico “apetecida”, “extasiada”,
“demasiadamente feliz como uma gazela saltitante das montanhas cobertas de neve”,
mas jamais... “gosto”], porém o grosso mesmo da minha estadia aqui é escrever
crônicas, contos ou pequenas histórias que possam tanto dar prazer aos meus
dedos, quanto aos olhos de quem lê.
Só um adendo: tive certa dificuldade em colocar
parágrafos ao fazer o alinhamento do texto [e mais uma vez aqui entra a métrica
desagradável, correta e inflexível da construção da língua portuguesa]. Quando se
faz o alinhamento do texto completo, os parágrafos perdem o seu próprio
alinhamento, porque não somente a caixa de edição de texto não te permite
colocar o parágrafo automático, como você tem de fazer o parágrafo manualmente,
ou seja, com espaços! Dessa forma, o alinhamento do texto, que o acerta como um
todo, faz com que os parágrafos pareçam uma gelatina durante o terremoto! Por
fim: desisti de parágrafos. Só alinhamento. Que os céus tenham piedade da minha
alma devota à língua portuguesa! ... E que os “remedinhos” do dia permitam que
a doença fique controlada. Amém!
Um pequeno outro adendo [garanto que é o último]: o nome
do quadro é “Crônicas de sinapses adoravelmente sórdidas”, quando na verdade
era “Crônicas de uma mente adoravelmente sórdida”. Foi depois de escrever essa
frase, apenas, que senti um calafrio na espinha ao perceber que “mente” rimando
com “adoravelmente” daria uma grave descompensada na minha pessoa, que já nem
tem problemas psiquiátricos o suficiente!
Rima... não dá. Sinto muito. Precisei mudar. De tal forma
pensei: “Oh, o que poderia ser tão belo quanto colocar todas as sinapses cerebrais
em uma completa zona de formigas relacionando-se com elefantes?”
“Sinapses” são, simplesmente, as transmissões de entre neurônios,
as mensagens que passam um para outro, formando, assim, uma rede de
pensamentos, informações e comandos. Partindo desse pressuposto, podemos
lembrar sempre de que a formiguinha e o elefante se casam, e a lua-de-mel é um
desastre! OU SEJA: o que mais poderiam ser todas essas ideias mirabolantes e
textos, quem sabe, desconexos, senão sinapses neuronais completamente
descompensadas? Sinapses, por definição, sórdidas! Não menos adoráveis,
todavia!
A defesa está concluída!
Esse é o meu primeiro conto para esse blog e espero que
gostem. Melhor: que lhes APETEÇA.
Falar sobre a minha pessoa não tem tanta graça e acredito
que já tenha falado até demais. Creio que a parte mais interessante seja
conhecer um pouco da imaginação de um par de neurônios em circuito.
Tenho dito.
Boa noite e boa leitura!
~~ * ~~
Miss Monica
Parte I
Determinadas questões talvez não fossem tão simples nos anos
80. Eram mais livres por um lado, porém mais reclusos por outro. Era um tanto
desconexo, se fosse pensar, no que dizia respeito à sexualidade, tanto a
escolha de sua própria, quanto ao simples tema “sexualidade”.
Ela não era nova, mas espirituosa; o que se poderia
chamar de “experiente”... ou, simplesmente, “velha”. Não saberia dizer se era
cômico ou extremamente desagradável ter a última alcunha como tratamento. Uma
vez mais, por um lado era “experiente” em demasia para achar graça do termo
“velha”; por outro, a sua espontaneidade, o seu senso espirituoso, considerava
o absurdo dos absurdos.
Não era velha. Não era velha com seu cigarro por entre os
dedos indicador e médio. Não era velha com sua mão de veias proeminentes,
pendente do braço da cadeira de balanço.
E ergueu a mão para levar o cigarro a boca, quando se
impediu no meio do caminho. Os olhos negros fitaram os vasos que se dispunham
sob a pele envelhecida e levemente desidratada; caso as unhas não estivessem
pintadas com seu bordô costumeiro, seria uma típica “velha” de meia idade.
Respirou profundamente e permitiu que a mão completasse
seu caminho.
Os lábios cheios e enrubescidos, pela sua própria
composição física, foram umedecidos pela língua e se permitiram acomodar o
cigarro por entre eles, para que a fumaça fosse puxada. O impulso da tragada
obrigou-a a cerrar os olhos e simplesmente se deixar levar por aquele momento
tão breve, entretanto extasiante.
A retenção da fumaça durou pouco. Logo fora expulsa pelos
lábios retraídos e sem sorriso. Há muito o cigarro não lhe dava mais o prazer
que desejava subtrair dele. Havia a tentativa, entretanto sem resultados; havia
se tornado um simples costume e nada mais.
Por ele, ela teria parado, mas nunca pareceu ser um
problema. O cigarro a acompanhava havia mais de trinta anos, de forma que a sua
companhia havia se tornado costumeira. Era isso: um costume. Péssimo costume.
O retorno a sua posição de conforto levou o cotovelo ao
braço da cadeira amadeirada, deixando a mão de dorso enrugado praticamente na
altura de seus olhos. Evitaria, com toda a certeza, mirá-la. Não havia
necessidade.
As marcas do tempo eram impossíveis de esconder, apesar
da beleza que carregava no corpo, no rosto e nos cabelos. Havia algo, ela
sabia, que ainda o atraía, e usava incansavelmente dos mesmos atributos para
dominá-lo, entremeá-lo em sua rede de desejo. De fato, ela era esperta. Era,
portanto, experiente. Não?
Um curto sorriso pôde se fazer no canto de seus lábios ao
pensar na maneira como a mirava. Ainda que o ambiente estivesse escuro, ainda
que estivesse como uma idosa a se balançar suavemente sobre a cadeira, com o
impulso do sapato alto sobre o carpete, ainda que estivesse só, ela o via com
clareza. Via suas reações; via a maneira como dela se aproximava.
Aqueles eram fantásticos pensamentos para se ater, visto
a falta do que fazer naquela ausência de trabalho. Substituída por uma jovem,
que mal havia adquirido pelos pubianos e se apresentava especialmente ridícula
naquelas calças rasgadas. Deprimente. Já poderia se considerar uma velha
professora aposentada?
Seriam os outros países iguais à Itália ou seria ela
apenas uma estúpida no meio daquele monte de calabreses pervertidos por
mulheres novas?
Nem bonita era ela, aquela criança vitoriosa por ter
largado as fraldas.
Mulheres novas e sem atrativo. Como eram patéticos.
As cinzas começavam a se acumular consideravelmente no
topo do cigarro e prontamente o bateu contra o velho e sujo cinzeiro de prata
na mesa que jazia ao seu lado. Tão sujo, tão sujo, mas com aquele valor sentimental
imensurável. Talvez se seu pai não lhe tivesse presenteado na noite de seu
casamento, provavelmente nunca mais teria fumado. Quem sabe não fosse uma forma
de prestigiá-lo, afinal era um casamento que durava firmemente há trinta e dois
anos.
Mesmo que pouco a fizesse sorrir, o pouco era simples,
alcançável. Não havia exigências.
Não chovia havia meses e não conseguia compreender por
qual motivo. Triste, porque a chuva lhe era um dos poucos prazeres. Sexo ao som
da chuva e ao cheiro da chuva... Os aromas se mesclavam e aquela parecia toda a
graça de se atracar por entre as cadeiras, poltronas e pés de mesa.
Partindo daquele maravilhoso vislumbre de cada dia, não
era capaz de se arrepender de não ter tido filhos. Sua mãe teria de perdoá-la
por não ter mudado de ideia.
Custou um longo momento para que pudesse se permitir
ouvir o tom daquela voz grossa a chamá-la. Os pensamentos tomavam conta de sua
mente e, novamente deveria ser perdoada, não havia sido ao primeiro sinal que o
percebera ali. Por vezes divagava, tal pobre e velha professora de italiano!
Enchendo os pulmões e uma prolongada inspiração, dera uma
última tragada no cigarro para, então, apagá-lo no cinzeiro. O soltar lento da
fumaça tivera a mesma progressão do virar de sua cabeça para aquele que jazia
de pé na porta.
Alto, magro, com aquele nariz francês fino e adunco; os
mesmos olhos azuis que a haviam atraído trinta e seis anos antes. Ela nunca se
importaria com os fios brancos que se projetavam sobre os negros remanescentes.
Não se importava com ele, com sua aparência simples, com a ausência de
perfeição; não era aquilo que tornava tudo diferente. Ademais, ela o achava
fascinante e com uma beleza que ela quem tinha de ver; ninguém mais.
Aquele era um relacionamento, de fato.
A paixão poderia desaparecer, mas jamais a fascinação.
Ela não era velha; era experiente.
E ela lhe ofereceu o mais digno e sincero sorriso.
Amei Manu....Meu.. Parabéns!!
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